Ainda à espera que o tempo volte atrás?
Artigo publicado na Vida Económica.
Pelo Fernando Amaral, Chairman do Sendys Group
Durante anos, digitalização e transformação digital foram vistos como chavões corporativos. Uns must have, daqueles que sovam bem, enchiam belas apresentações e emprestavam um ar sofisticado a quem os proferia. Salvo honrosas exceções, para além das grandes empresas, pouco mudava, até se abater uma pandemia, agnóstica à dimensão ou setor de atividade das organizações.
À força, como é habitual, mergulhámos no trabalho remoto e, aqui d’el rei, venham de lá, e depressa, essas soluções que enfeitavam powerpoints.
Passados vários anos, o mundo percebeu que digitalizar não era um luxo, mas uma questão de sobrevivência. E, a transformação digital, o passo crítico seguinte.
Hoje, a digitalização e modelos híbridos de trabalho, assentes em tecnologia, deixaram de ser planos de contingência e um custo, para serem investimento. Tornaram-se aliados estratégicos das empresas que querem ser mais ágeis, competitivas e humanas. O teletrabalho, e a camada tecnológica que o suporta, mostrou que a inovação não depende de um código postal, mas de uma cultura preparada para evoluir.
Os dados são claros. Segundo a Global Workplace Analytics, se todos os profissionais americanos com funções compatíveis trabalhassem remotamente metade do tempo, as empresas poupariam mais de 700 mil milhões de dólares por ano. O equivalente a mais de 11 mil dólares por colaborador.
Estas poupanças não vêm meramente do imobiliário ou eletricidade e não devem ser vistas como o reflexo de uma nova economia da eficiência. Resultam de menos deslocações, menos desperdício e menos rigidez. O capital libertado pode ser reinvestido em tecnologia, formação e inovação, exatamente o que faz uma empresa distinguir-se e crescer no mercado global.
Mas, os ganhos, vão muito para além da mera contabilidade. O modelo híbrido permite atrair talento global, reduzindo barreiras geográficas e aumentando a diversidade. Profissionais em Lisboa, Luanda ou Macau colaboram em tempo real, enriquecendo as equipas com novas perspetivas. A produtividade aumenta, as equipas estão mais satisfeitas e o ciclo repete-se: melhor talento, melhores produtos e empresas mais competitivas.
Curiosamente, a transformação digital democratizou o jogo. As PME, antes limitadas por recursos ou localização, podem agora competir lado-a-lado com grandes multinacionais. Ferramentas cloud, plataformas colaborativas e infraestruturas remotas colocaram a inovação ao alcance de todos. O verdadeiro diferencial já não é o tamanho, mas a capacidade de adaptação.
Claro que há desafios: segurança de dados, integração cultural e formação contínua. Mas todos são superáveis com planeamento e liderança. O teletrabalho exige confiança e objetivos claros, não a velha vigilância e número infindável de horas à secretária. Exige tecnologia, mas também empatia. No fundo, exige que as empresas se tornem mais humanas, precisamente, por serem mais digitais.
Transformação digital e trabalho híbrido não são meras tendências. São o novo padrão de competitividade. E, quanto mais cedo uma empresa o perceber, mais cedo colherá os resultados: equipas mais realizadas, custos mais baixos, inovação mais rápida e uma marca mais forte.
O futuro começou, de fato, com a pandemia. A questão, passados estes anos, é simples: a sua empresa ainda espera que o mundo volte atrás, ou deu o próximo passo?




